Sentimentos
A ventilação assistida impede a comunicação
verbal evocando sentimentos negativos e o voltar as costas aumenta a frustração
e a necessidade de afeto ultrapassa a importância da ventilação.
O doente vê
o seu valor através da atitude e comportamento de quem cuida, onde o valor de
cuidar consiste na confirmação holística do sofrimento individual. Sente-se
ignorado, não valorizado e tratado
como objeto, por falta de atenção, contacto visual e falar-lhe rápido.
Despersonalização quando tratado como sujeito
passivo sujeitando-o ao poder dos enfermeiros; impotência e perda de poder,
associados à perda de autonomia nas decisões, falta de informação e à
dificuldade em falar.
Desespero e revolta pela falta de experiência
do enfermeiro em comunicação e desconhecimento das razões porque não fala.
Quando se vê à
parte e a vida perde o sentido sente-se isolado vivenciando sentimentos de desejo
de recuperar a saúde ou sentimento de suicídio.
Dificuldades na comunicação
Alguns doentes não conseguem alíviar a sede,
o calor, o frio e a dor. As mensagens sobre dor por vezes não são compreendidas
ou são ignoradas.
Alguns enfermeiros não compreendem qualquer
tipo de comunicação, associado à falta de atenção e experiência. Limitam-se a
comentários sobre cuidados físicos, sintomas, questões de sim ou não, ou ordens.
A comunicação não verbal causa cansaço e
desgaste emocional, consequentemente desmotivação e renúncia.
As dificuldades são um problema minor quando não há memórias; analisando
em profundidade são fonte de grande sofrimento.
Factores que influenciam a comunicação
O tubo orotraqueal é o maior obstáculo
pelo que o uso de material auxiliar diminui os níveis de frustração.
Enfermeiros experientes e intuitivos,
estão atentos às situações de stress e
dão respostas mais assertivas, de qualidade e em tempo real. O empenho, disponibilidade,
otimismo e empatia, são condições de sine
qua non para que a experiência seja produtiva. A falta de treino na
avaliação, estratégias e auxiliares dificultam a comunicação.
A carga de trabalho aliada à falta de
tempo e o nível de exigência de cuidados determinam o seu sucesso.
Estratégias de comunicação
A VA impossibilita o doente de falar, de questionar,
pedir ajuda ou partilhar receios sendo fulcral o uso de um quadro pré-definido com
necessidades e emoções, adaptado ao doente.
Pode recorrer ao toque nas grades da cama,
pressão no oxímetro no colchão, provocar ruídos, gestos expressivos com a boca
e lábios.
A presença da família alivia sentimentos negativos, propicia
atmosfera de amizade, participação, união e segurança, mantendo a sua individualidade
e identidade.
Um enfermeiro sensibilizado melhora a sua atitude
e motiva o doente, dá tempo para exprimir-se, explica, e orienta sobre sinais e
métodos de comunicação. O contato visual, tratá-lo pelo nome, o toque e disponibilidade,
aumenta a qualidade dos cuidados caminhando em direção ao cuidado holístico.
O humor reduz o stress,
o sofrimento e outros aspetos que limitam a motivação e o empenho do doente
na comunicação.
O alívio da dor, controle dos sintomas de
desconforto, e a redução do uso de
restrição física promovem a
comunicação.
Em suma, devemos atender à
comunicação e a aspectos que podem comprometê-la e assim aperfeiçoar o saber-fazer, a relação enfermeiro-doente e oferecer
cuidados mais humanizados.
Autores:
Blandina Quintal e Sandra Camacho
Enfermeiras, Serviço de
Neurocirurgia do HNM
Ermelinda Sousa
Enfermeira Especialista em
Enfermagem de Reabilitação, Serviço de Cirurgia Vascular do HNM
Idalina Silva
Enfermeira Especialista em Enfermagem de
Reabilitação, Serviço de Neurocirurgia do HNM
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